A PISCINA DE CAÍQUE (2018)

Direção: Raphael Gustavo da Silva
Descrição da imagem 1


Sonhando em ter uma piscina, Caíque e seu amigo se divertem escorregando no chão molhado e ensaboado da área de serviço. Por causa do desperdício de água, ele acaba criando problemas com sua mãe.


Este curta-metragem traz, em sua enxuta duração, uma sensível reflexão sobre a infância em um contexto de vulnerabilidade social. A narrativa, embora simples, carrega uma profundidade emocional na explanação da luta diária de uma criança que só deseja se divertir e ser, essencialmente, uma criança. A trama é centrada no desejo de Caíque de nadar em uma piscina, e mais especificamente, nas consequências de um contexto onde esse sonho entra em conflito com a dura realidade vivida por sua família. A mãe de Caíque, uma figura rígida, se vê na difícil posição de manter o sustento da casa sozinha, enquanto o avô, funciona aqui como uma figura mais paternalista, oferecendo ternura e afeto para equilibrar essa dinâmica familiar.


Raphael Gustavo da Silva, o diretor, acerta ao evidenciar o contraste entre a pureza do desejo infantil e a crueldade das condições sociais que privam crianças de algo tão básico quanto o direito de brincar, além das contradições de uma sociedade onde a infância muitas vezes é atropelada pelas responsabilidades da vida adulta, quando, em determinado momento da história, Caíque, junto de seu amigo, enfrenta a dura decisão de abrir mão de sua sonhada piscina para garantir uma caixa d'água que trará melhorias para família. Esse gesto singelo carrega um peso simbólico enorme: o sacrifício dos sonhos em prol de necessidades essenciais.


Outra cena em que os meninos brincam com água na varanda, deslizando pelo chão, é tanto lúdica, quanto triste, refletindo a engenhosidade das crianças em criar diversão com os poucos recursos que têm, e ao mesmo tempo revelando o quão distantes estão de ter uma infância idealizada, somada a atuação adorável dos jovens atores.


A Piscina de Caíque tem um ar de “feel good movie” ao mesmo tempo em que apresenta um retrato de uma família chefiada por uma mulher negra, as dificuldades financeiras e a busca incessante por um futuro melhor de forma sensível.

Autor: William Almeida