"Dias Vazios", filme de estreia do diretor Robney Bruno Almeida, é baseado no livro "Hoje Está um Dia Morto", de André de Leones, e se ambienta em Silvânia, uma pequena cidade no interior de Goiás, onde a influência da religiosidade católica é sufocante. A história acompanha Daniel, um jovem introspectivo que, insatisfeito com a vida pacata e sem perspectiva de sua cidade natal, decide escrever um livro sobre Jean e Fabiana, dois alunos de sua escola que desapareceram misteriosamente dois anos antes.
Almeida constrói uma narrativa complexa e metalinguística sobre temas complexos envolvendo suicídio e o vazio existencial, onde a linha entre realidade e o delírio se torna cada vez mais tênue à medida que Daniel se aprofunda em sua investigação, com o recurso da repetição de cenários e diálogos em paralelo. Já visualmente, "Dias Vazios" reflete através da fotografia acinzentada o estado de espírito dos personagens e a sensação de estagnação que emana não só das ruas de Silvânia, mas de suas próprias vidas, com planos amplos e estáticos que capturam a melancolia e a solidão que dominam o ambiente.
O elenco, embora jovem, entrega performances sólidas, com destaque para as atrizes Nayara Tavares e Natália Dantas, que conseguem transmitir com precisão a angústia e a complexidade emocional de suas personagens. Carla Ribas também se destaca como a freira que administra a escola.
"Dias Vazios" não é um filme que oferece respostas fáceis para as questões que levanta, talvez por isso seja considerado divisivo. Sua narrativa fragmentada e o uso constante de metáforas desafiam o espectador a refletir sobre os temas abordados encontrando suas próprias interpretações. Embora o clímax seja excessivo e a resolução metalinguística nem um pouco satisfatória, "Dias Vazios" é uma obra que se impõe como um filme relevante e instigante no panorama do cinema nacional. Seu tratamento honesto da adolescência faz dele um drama maduro, que garante um bom debate.