SIMEÃO, O BOÊMIO (1969)

Direção: João Bennio
Descrição da imagem 1


Depois de “O Diabo Mora no Sangue”, João Bennio continua seu caminho na indústria cinematográfica, desta vez, na direção de "Simeão o Boêmio". Rodado em Pirenópolis, conta a história de Simeão, um homem simples do interior que, apesar de ser constantemente alvo de deboche pelos habitantes de sua cidade, revela-se um herói improvável em um momento crucial.


Bennio interpreta o personagem título com um ar teatral e extravagante. Na primeira cena, na qual ele percorre, seminu, as ruas da cidade, o personagem está apenas assobiando e agindo naturalmente. Ele é um pária social, assim como o seu futuro personagem em “O Azarento - Um Homem de Sorte”. Bennio usa o personagem para expor as hipocrisias da moralidade popular do local, criando uma dinâmica interessante e, por vezes, bastante divertida de se assistir.


Há uma intriga entre dois partidos políticos na cidade. O interessante é que ambos se unem em prol de expulsar Simeão, que é considerado uma figura subversiva. A única coisa que desvia a atenção da cidade da figura de Simeão é quando a filha do político de um partido se apaixona por um rapaz do outro partido oposto e isso se torna uma infame fofoca. A cena em que um cidadão flagra os dois em um momento íntimo é excelente, com diversos de crosscuts de corujas e estátuas de santos os observando, quase como um aviso de que, logo, toda a cidade saberia do ocorrido. Essa subtrama, apesar de dividir o foco narrativo, adiciona uma camada de complexidade à narrativa.


A direção do filme é precisa ao retratar a vida no interior com autenticidade. Os cenários de Pirenópolis trazem o ar bucólico à história e a fotografia captura a essência da paisagem rural, proporcionando um pano de fundo visualmente rico. A direção também exerce um truque interessante de mostrar ao público flashsideways da imaginação dos moradores, no caso, das maneiras como eles excomungariam Simeão de seu meio, com direito às mais terríveis crueldades.


Simeão não fez nada realmente grave contra a população e é aí que mora a magia do filme. Ele é mal visto apenas por questionar padrões antiquados preestabelecidos. O ponto culminante do filme, quando Simeão defende a filha do político da humilhação pública, é um poderoso pois redefine o papel do protagonista aos olhos da cidade e amarra toda a mensagem do longa de Bennio - que, nas próprias palavras do personagem é assim definido: “O mal não é devassidão, é a mesquinhez. A pureza não está nos códigos de honra, está no sentimento.”


Autor: William Almeida