"Vento Seco", de Daniel Nolasco, é uma obra que transborda desejo, ciúme e sensualidade em um cenário abrasador de calor e repressão. Inspirado na iconografia de Tom of Finland, o filme constrói um universo visual que mistura o erótico com o onírico, onde corpos masculinos desfilam como símbolos de fetiche e fantasia.
A história segue Sandro, um gerente de uma fábrica de fertilizantes no interior do Brasil, que vive sua rotina entre o trabalho e encontros sexuais com seu colega, Ricardo. A entrada de Maicon, um motociclista vestido de couro que parece ter saído diretamente das ilustrações de Tom of Finland, desperta nele uma obsessão doentia, tornando-se o centro de sua atenção e ciúmes.
Nolasco manipula o imaginário homoerótico de forma hábil e provocativa, com cenas sexualmente explícitas que desafiam as fronteiras entre o cinema e a pornografia. Apesar do claro intuito de transformar o carnal em poético, algumas delas, especialmente as delirantes, acabam soando mais vulgares do que qualquer outra coisa. Mesmo na proposta deste estudo sexual mais profundo, é como se ele se excedesse.
A fotografia vibrante e neon de Larry Machado é deslumbrante, contribuindo para toda a dualidade do filme, alternando entre a aridez do cerrado brasileiro e o brilho fluorescente de sonhos fetichistas. A trama, no entanto, muitas vezes se perde em sua própria languidez. Com um ritmo que privilegia a repetição e o silêncio contemplativo de Sandro, "Vento Seco" estende-se em sua duração de forma um pouco exagerada, sem explorar com profundidade os conflitos internos de seu protagonista. O triângulo amoroso que se desenvolve entre Sandro, Ricardo e Maicon, enquanto alimenta as tensões do filme, surge tardiamente e não é completamente desenvolvido, deixando o espectador à espera de uma resolução mais contundente.
Mas apesar dessas falhas narrativas, "Vento Seco" é visualmente fascinante, com uma estética que celebra o fetiche e o desejo queer de maneira audaciosa e rara no cinema contemporâneo. O filme de Nolasco, embora não seja isento de problemas, é um retrato provocativo de como o desejo pode moldar e transformar nossas vidas.