Em Mr. Leather, Daniel Nolasco nos leva ao universo da competição fetichista Mr. Leather Brasil, oferecendo muito mais do que um simples retrato documental. Desde o início, o cineasta se afasta do tradicionalismo do documentário ao flertar com a teatralidade. Ao invés de apresentar registros históricos com seriedade, Nolasco opta por encenar, inserindo um personagem que, de forma irônica, "não é ator", mas seduz a câmera com olhares lascivos e uma presença magnética. Esta decisão artística estabelece o tom do filme, que se entrega ao espetáculo erótico e ao artifício, convidando o público a participar da fantasia fetichista e, ao mesmo tempo, a refletir sobre a construção de mitos dentro desse universo.
À medida que o filme avança, Nolasco segue o formato mais convencional de documentário, apresentando perfis dos competidores. Contudo, o diretor nunca abandona seu espírito criativo, inserindo devaneios surreais, como a fantasia fetichista nas ruas do Rio de Janeiro, onde o couro se mistura com a paisagem urbana. Esses momentos reforçam a capacidade do filme de navegar entre o desejo íntimo e a exibição pública, entre o real e o imaginário.
O clímax da obra, com a noite da competição e a coroação do vencedor, nos surpreende. Apesar do tom lúdico e, por vezes, superficial, “Mr. Leather” consegue nos envolver emocionalmente com seus personagens, fazendo-nos torcer por eles. Embora o filme deixe alguns temas subjacentes à iconografia do couro e BDSM pouco explorados, sua leveza e senso de diversão acabam compensando essa falta de profundidade. No final, “Mr. Leather” é uma celebração do erotismo teatral que tanto diverte quanto provoca. Nolasco, com sua câmera afiada, eleva o documentário fetichista a um espaço onde realidade e fantasia se fundem.