“Paulistas”, dirigido por Daniel Nolasco, é um retrato contemplativo de uma região rural de Goiás, assolada pelo êxodo rural. O filme se ancora no formato do documentário observacional, evitando entrevistas ou uma narrativa tradicional, para focar nas rotinas simples de famílias que sobrevivem à decadência demográfica da localidade.
O ponto de partida do filme é a cartela inicial, que nos informa que não há mais jovens morando em Paulistas devido ao êxodo rural. Eles só retornam nas férias, como é o caso dos primos Samuel, Vinícius e Rafael, que Nolasco acompanha em sua volta temporária ao ambiente rural. O filme se estrutura ao redor desses pequenos momentos: a ordenha das vacas, passeios de moto pelo cerrado, conversas silenciosas.
A força visual do filme é inegável, mas a impressão que fica é de um fascínio superficial com a estética da vida rural. Cada cena parece cuidadosamente orquestrada para produzir imagens belas, mas muitas delas carecem de uma justificativa narrativa ou simbólica que amplie nosso entendimento da região ou de seus habitantes. Por exemplo, a montagem conecta momentos e elementos de maneira simbólica, como o contraste entre o filho que bebe leite diretamente da vaca e a televisão moderna que parece deslocada no ambiente rural. No entanto, esses artifícios acabam soando mais como ornamentos do que como contribuições reais para o desenvolvimento de um painel complexo sobre a realidade rural.
Há uma tentativa de inserir uma certa dicotomia entre o mundo rural e o urbano através da trilha sonora, que alterna entre o sertanejo raiz e o rock psicodélico. Essa oposição reflete as tensões internas dos jovens personagens, divididos entre a modernidade urbana e a tradição rural.
O maior dilema de “Paulistas” reside na tentativa de ficcionalizar a realidade observada, sem, contudo, aprofundar as questões que são apresentadas de maneira superficial. O êxodo rural é um tema potente, mas o filme o trata de maneira quase anedótica, sem nos oferecer um verdadeiro mergulho nas causas ou nas consequências dessa migração. A cultura rural que se esvai, a geração que está em transição, o futuro incerto dessas terras; tudo isso é tocado de forma breve, sem uma análise mais contundente, o que não impede “Paulistas” de ser belíssimo.