RESPLENDOR (2019)

Direção: Cláudia Nunes e Erico Rassi
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A Comissão Nacional da Verdade, criada em 2011 para investigar crimes cometidos durante a ditadura militar no Brasil, trouxe à tona um capítulo ainda obscuro da história: a existência do Reformatório Krenak, um centro de detenção indígena na cidade de Resplendor, Minas Gerais. Localizado no território da etnia Krenak, este centro foi palco de diversas formas de violência e restrições culturais, sob a rígida vigilância militar. O documentário "Resplendor", de Cláudia Nunes e Erico Rassi, vencedor do Prêmio João Bennio de Cinema Goiano no FICA de 2020, explora o funcionamento desta prisão e as consequências traumáticas para o povo Krenak.


Quando se fala em ditadura militar, automaticamente retorna às nossas cabeças a ideia de repressão, tortura e a perda da liberdade de expressão, principalmente graças a documentários importantes que retrataram os horrores deste período na história do Brasil - vividos pelos mais diferentes tipos de cidadãos. Nesse sentido, "Resplendor" se destaca como uma obra tão relevante por jogar luz às vítimas muitas vezes esquecidas pela história: a população indígena.


Dirigido e roteirizado por Claudia Nunes e Erico Rassi, o documentário revela a história do centro de detenção indígena em Resplendor, conhecido inicialmente como Reformatório Krenak. Indígenas de diversas etnias, principalmente os Krenak, foram aprisionados e torturados neste local. Os motivos das prisões? Os mais esdrúxulos possíveis, como “vadiagem”, “consumo de álcool” ou “agressividade”. As prisões tinham duração indeterminada, sem permissão para visitas e os indígenas também eram proibidos de falar suas próprias línguas.


O documentário traz entrevistas, matérias jornalísticas e propagandas militares da época para situar o espectador da visão etnocêntrica do período: "Sim, o índio é fator de segurança nacional, pois quando ele se revolta, cria a desordem e a subversão." (Capitão Manoel dos Santos Pinheiro ao Jornal do Brasil em 27/8/1972). Ou seja, a população indígena era vista como uma "espécie" a ser domada, civilizada e “integrada”, ou melhor, controlada. Surge a partir daí um forte movimento de negação da identidade indígena, provocado pelo trauma das torturas da ditadura. Logo, os Krenak desenvolveram um medo profundo de falar sua língua nativa - que foi repassado para as gerações seguintes.

“Resplendor” traz à tona com coragem o horror da existência de um campo de concentração indígena" e provoca uma reflexão: quantas outras histórias como essa ainda permanecem ocultas? 


Autor: Willian Almeida