"Julie, Agosto e Setembro" conta a história de Julie, uma garota suíça que se muda para Goiânia. Em 8 minutos, é fascinante como Jarleo Barbosa, o diretor, trabalha com muito cuidado as nuances de como é se sentir um estrangeiro.
O diretor trabalha essa nuance especialmente com a cinematografia. Goiânia, como a própria protagonista descreve: é quente e seca, e de certa forma. O trabalho sem muito brilho e saturação ajuda a refletir esse aspecto da cidade ao espectador. A capital também é capturada de tal forma que é como se a cidade se tornasse um personagem na vida de Julie, interrompendo sua narração com paisagens urbanas.
É divertida a pouca interação de Julie com os habitantes locais, ou melhor, com seus namorados locais. A barreira linguística serve como uma metáfora interessantíssima para o sentimento de alienação que Julie vivencia morando em uma nova cidade. Este aspecto também é enfatizado pela escolha do francês, uma língua que, para muitos, representa sofisticação, e distancia a personagem do ambiente onde se encontra. Essa escolha estilística poderia ter sido facilmente considerada uma faca de dois gumes, mas, aqui, ela funciona como uma metalinguagem interessante de “barreira linguística” - que não só a protagonista vai experienciar, mas o público também.
A performance da atriz principal também é como Goiânia: séria e seca. Na maior parte do curta metragem a vemos de “cara fechada”. Neste momento, é como se Julie não só estivesse na cidade, mas também a representasse, além das paisagens urbanas. Em última análise, o diretor faz um excelente trabalho ao condensar a narrativa do "peixe fora d'água" em um retrato mais curto, sutil, e de certa forma até mais contemplativo, sobre pertencimento. Belíssimo.