PARQUE OESTE (2018)

Direção: Fabiana Assis
Descrição da imagem 1


"Parque Oeste", dirigido por Fabiana Assis, é um documentário de 2018 realizado com a clara intenção de provocar o espectador a refletir, ou ao menos se situar, sobre as consequências devastadoras de quando o Estado exerce abuso de poder por meio da violência. O filme surge como espécie de “versão estendida” do curta "Real Conquista", de 2017, aprofundando a história de Eronilde Silva, uma mulher que, junto a outras 3.000 famílias, foi brutalmente despejada do Parque Oeste Industrial, em Goiânia, em 2005.


Utilizando imagens de arquivo e registros atuais, o filme é eficaz em recriar a sensação de terror do fatídico dia onde policiais invadiram o Parque Oeste Industrial com o uso de violência absolutamente desmedida, resultando em mortes e na destruição de diversos lares. As cenas em questão, exibidas no documentário, foram captadas pelos celulares dos próprios moradores, um recurso forte para intensificar a denúncia que evidencia ao espectador o pânico e o desespero vividos pelas famílias.


Eronilde, a protagonista escolhida por Assis, emerge como uma figura central de resistência, transformando sua dor em militância. No entanto, o filme peca por concentrar-se apenas nela, em detrimento de outras vozes de vítimas que foram igualmente impactadas pelo ocorrido. A ausência de um leque mais amplo de personagens e o foco restrito a Eronilde reduzem a dimensão coletiva da tragédia, que poderia ter sido amplificada para o público com depoimentos adicionais e uma exploração mais profunda das causas e consequências sociopolíticas da tragédia.


"Parque Oeste" está tão empenhado em cumprir seu papel de denunciar a violência estatal e as promessas não cumpridas nessa situação que sua forma cinematográfica acaba deixando a desejar. Alguns dos recursos empregados por Assis são bastante interessantes (as frequentes e irônicas propagandas dos conjuntos habitacionais seguidas pela desolação do Parque Oeste, ou os “planos sequência” que seguem Eronilde enquanto ela conversa com vizinhos e amigos), já outros, são tão formulaicos, (como uma trilhas sonoras de suspense ao longo do filme e uma cena de câmera lenta envolvendo um bebê) que soam manipulativos. 


Em suma, Fabiana Assis entrega um trabalho que, embora desequilibrado em sua abordagem de tom jornalística, mantém viva a memória de um dos episódios mais brutais de violência policial no Brasil.


Autor: William Almeida